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sexta-feira, 22 de maio de 2015

Meditação além da almofada.

Manter-se em estado de atenção é a possibilidade que temos de vivenciar todos os fatos como são: raiva, dor, medo, cansaço, decepção, alegria, satisfação, conforto, confiança....
Quando observamos nosso estado, simplesmente olhando para nossas ações sem julgamento, temos a possibilidade de darmos espaço para os pensamentos e consequentemente para as ações que venham causar menos danos possíveis, a você ou ao outro. 

Quando estamos sentados na almofada, com o propósito de meditar, o que fazermos é observar, ter atenção, ao corpo em relação ao espaço, aos sentidos e seus estímulos - audição, olfato, tato...e observamos os pensamentos, o fluxo dos pensamentos, surgem e desaparecem e temos a possibilidade de observar simplesmente. Praticando a observação, é possível entender o mecanismo sentir-pensar-reagir. Parece que a sequência é sentir e reagir, mas na meditação conseguimos observar essa sequência mais fragmentada, e vimos que sentimos, classificamos o que estamos sentindo como bom ou ruim e reagimos. Sentamos na almofada, sentimos o contato da perna com a almofada, se sentirmos dor, a reação é arrumarmos a nossa postura, esticar a perna para parar a dor. A cada momento da meditação, quanto mais nos dispomos a meditar, a nossa percepção a essa sequência se expande, e assim podemos levar esse estado para além da almofada.

No "pensar" está contido os conceitos que temos em relação às coisas, e todo conceito está sempre embasado na proteção do "eu". Raiva - não fizeram o que "eu" queria, medo - "eu" estou sendo ameaçado, decepção - esperava que fizessem o que "eu" acho certo, alegria - tudo está certo como "eu" quero, confiança - tudo vai acontecer como "eu" espero.
O mecanismo do ego é certeiro, até quando digo: "eu não me importo com nada que aconteça", "eu sou calmo e nada me abala" o orgulho está ditando as regras, afirmando o ego. Parece ser uma prisão sem a mínima chance de escapar....mas há uma fresta que é a observação! E à partir da prática da observação conseguimos aceitar, simplesmente aceitar, sem condições ou imposições, conseguimos entender que as emoções não são inerente à mente, pois cada vez mais ampliamos a percepção da mente em relação à esse mecanismo do ego.

Mas e na prática? como reagir? 
Com a prática da meditação teremos uma ampliação da observação, e nesse estado de atenção, a atenção plena, tenho a possibilidade de reagir com mais autenticidade. O ensinamento da atenção plena, no budismo tibetano chama-se Sathipatthana.
Viver o dia a dia pensando "tenho que observar" não é essa a questão, não é essa a prática em si. Meditando, ( com frequência) consegui perceber a abertura do estado de atenção, a fresta da observação fica cada vez maior e assim "cabe tudo". Todo sentimento que vem, entendemos cada vez mais nossos sentimentos, nosso incômodo, porque algo nos agrada ou desagrada, "fiquei com raiva, porque algo não saiu como eu queria"

E isso é simplesmente uma constatação, não é nenhuma análise complexa, além do mais, o intuito é descomplicar, tornar claro, simples, para acontecer a abertura e o desapego, quando aceitamos, aceitamos também a condição de que não conseguimos lidar com alguma situação, esse é um ponto importantíssimo, é a compaixão por si mesmo, aliás, onde começa a compaixão! Na abertura há espaço para essa aceitação do próprio "erro", que é um erro por conta de um conceito pré estabelecido, nossas referências sobre certo e errado são muito fortes, e é aí que cabe a observação para entendermos isso.

A atenção plena, faz com que caminhemos e lidemos com o que há de fato e não com o que esperamos que seja, neste ponto que conseguimos agir com autenticidade, agir da melhor forma seja qual for a situação, sendo que a melhor forma não é o que realmente agrada ou desagrada, mas é nossa melhor decisão para um fato.

Uma ótima oportunidade para entendermos o mecanismo da mente em relação às situações, é a decepção, esta nos traz a realidade, o que realmente é em si e de fato, não é o que esperamos, é o que estamos vendo claramente no momento da decepção. No livro "Além do Materialismo Espiritual" do mestre do budismo Tibetano Chogyam Trungpa Rinpoche - ele fala sobre a decepção dessa maneira, como sendo uma ótima oportunidade de encararmos as coisas como elas são e assim nos relacionamos melhor com o que existe, ou com o que criamos em nossa mente...!




quinta-feira, 9 de abril de 2015

Vivenciando a indiferença.

A indiferença parece não atribuir qualidade à uma relação, será que é possível? pois as relações se constituem através das emoções. 
Podemos nos sentir indiferentes a uma situação ou pessoa e isso parecer algo bom... determinados acontecimentos não nos afetam, não damos importância ou não somos tocados... mas há uma atividade nessa indiferença, a rejeição está presente, de certa forma não queremos nos relacionar, algo nos desagrada... As relações são inevitáveis, à partir do momento que existimos, mesmo que vivamos sozinhos. 
Na meditação conseguimos visualizar esse mecanismo, podemos estar em postura meditativa e mente atenta ao presente, e dessa maneira observamos as coisas e a situação que estamos naquele momento. Sentimos o corpo e a influência do local e do ambiente, sentimos frio, calor, conforto, incômodo, dor, pressão, relaxamento, nos relacionamos fisicamente com o local. Vamos além do tato e sentimos os cheiros, os ruídos, visualizamos o ambiente e na atividade dos sentidos, desejamos ou rejeitamos. O desejo e a rejeição, são consequências das nossas emoções, uma simples categorização, algo nos faz bem  ou nos faz mal, e isso se dá à partir de nós e não do objeto ou situação, a qualidade está na nossa categorização, nós impomos tal qualidade. 
No entanto a indiferença parece não possuir qualidade alguma. Partindo do princípio que à partir dos sentidos, nossa primeira ação em relação às coisas algo nos agrada ou não, dessa maneira a indiferença é uma reação. Observando em meditação, esse mecanismo, desejar ou rejeitar, percebo a importância de tais reações e mais significativo ainda é aceitar essas reações. Tentar aceitar um cheiro ruim pode causar enjoo, e isso é simplesmente um fato, porém em determinado contexto, uma pessoa pode não se incomodar com o mesmo cheiro que causa enjoo a outra, tudo depende das circunstâncias e referências. 
Após refletir sobre a indiferença, após ensinamentos que tive sobre as emoções, passei a sempre me questionar quando me vi indiferente, da mesma maneira que me questiono quando rejeito ou desejo, é um questionamento simples, somente para eu ter clareza da situação e aceitá-la, assim consigo me relacionar melhor com as coisas e as pessoas..! (5% de evolução..rsrsrs).


Cena do filme "Quem quer ser um milionário" - o menino fica preso num banheiro, enquanto naquele momento chega na cidade o seu ídolo, seu ator indiano preferido... ele não pensa duas vezes e pula no rio de cocô pra ver o artista!!
Vcs não sabem o quanto é difícil pra mim postar essa foto, rejeitei muito a idéia... por isso postei.